CARTA DE OUTUBRO, 1950

CARTA DE OUTUBRO, 1950
               Miguel Russowsky

Hoje estou triste... As mágoas andarilhas
estão de volta e batem na vidraça.
Pela varanda o Tempo, insosso, passa
arrastando sem som as sapatilhas.

Há promessas envoltas de fumaça...
(Coitadas! São princesas maltrapilhas
que se perderam por esconsas trilhas)
sangrando os pés descalços na desgraça.

Hoje estou triste... A carta que releio
(Outubro de cinquenta. Primavera!)
falava que viria, mas não veio.

O destino a levou... Em mim persiste
aquela jura acesa na quimera.
Envelheci. Meu Deus!... Hoje estou triste.


(Quinta Antologia Poética de A FIGUEIRA, página 117) 

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