POEMA PORTUGUÊS 6 (FERREIRA GULLAR)

POEMA PORTUGUÊS 6
FERREIRA GULLAR

Calco sob os pés sórdidos o mito
que os céus segura – e sobre um caos me assento.
Piso a manhã tombada no cimento
como flor violentada. Anjo maldito,

(pretendi devassar o nascimento
da terrível magia) agora hesito,
e queimo - e tudo é o desmoronamento
do mistério que sofro e necessito.

Hesito, é certo, mas aguardo o assombro
com que verei descer de céus remotos
o raio que me fenderá no ombro.

Vinda a paz, rosa-após dos terremotos,
eu mesmo ajuntarei a estrela ou a pedra
que de mim reste sob os meus escombros.


(LIVRO GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 209)

Comentários