Tempos Duros
Murilo Mendes (Brasil 1901 – 1975)
A aurora desce a viseira:
O monumento ao deserdado desconhecido
Acorda coberto de sangue.
O mar furioso devolve à praia
Alianças de casamento dos torpedeados
E a fotografia de um assassino,
Aos cinco anos – inocente – num velocípede.
Alguém parte o pão dos pássaros.
O ar espesso entre os sinos
Empurra o espanto das árvores.
Longas filas de homens e crianças
Caminham pelas mornas avenidas
Em busca de ração de sal, azeite e ódio.
E a morte vem recolher
A parte de lucidez
Que durante tanto tempo
Escondera sob os véus.
SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL
Uma Antologia Poética
Organização, seleção, edição e notas de
Sammis Reachers
2014
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